
O Projeto

por Tania Quaresma
Cineasta
“Eu sonho com uma sociedade reinventando-se de baixo para cima, em que as massas populares tenham, na verdade, o direito de ter voz e não o dever apenas de escutar. Esse é um sonho que acho possível, mas que demanda o esforço fantástico de criá-lo”.
Paulo Freire
Catadores de História - reflexões sobre o "lixo", consumo e impermanência
nasce no momento em que o país está implantando a sua política de resíduos sólidos. Um momento importante porque que a sociedade brasileira está repensando o destino que pretende dar às 240 mil toneladas de lixo que produz diariamente e que hoje são depositados em 2.096 lixões distribuídos em 2.810 municípios brasileiros (dados do IPEA).
Quando foi editado, em 2011, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos estimava que existiam 600 mil catadores, a maioria atuando nos lixões que deveriam ter sido desativados em 2014. O documento também reconhecia o valor do serviço ambiental prestado por esses(as) trabalhadores(as) e determinou que eles fossem integrados na cadeia de reciclagem, promovendo a cidadania e a geração de emprego e renda com a atividade que, a despeito de sua importância, ainda se desenvolve de forma absolutamente marginalizada.
“Catador@s de História” é um projeto formado por um conjunto de ações que incluem filme de longa metragem, exposição multimídia, livro/almanaque, coleção de folhetos de cordel e oficinas, com catadores e catadoras de Brasília, DF e de todas as regiões brasileiras. O objetivo do projeto é retratar, de forma realista e digna,a vida desses(as) profissionais neste momento histórico, e mostrar de que maneira eles e o país estão fazendo a transição para a nova realidade desenhada pela Lei de Resíduos Sólidos.
“Filme documentário de longa metragem “Catadores de História - um filme-oficina”
A ideia de fazer um documentário sobre resíduos sólidos, tendo como fio condutor os (as) profissionais que dele tiram seu sustento, surgiu da constatação de que, às vésperas de entrar em vigor, a Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), era praticamente desconhecida pelos(as) catadores(as) do DF e pela população em geral. Apesar de serem diretamente atingidos pelos novos parâmetros legais, pouquíssimos(as) catadores(as) acreditavam que o lixão da Estrutural, como todos os outros do país, seriam fechados até 2014; que o poder público conseguisse instituir, dentro deste prazo, um sistema de coleta seletiva e viabilizasse o retorno dos resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis ao ciclo produtivo; e que para isso os administradores recorreriam prioritariamente aos catadores, os mesmos que atuam hoje, mas que devem se organizar em cooperativas ou outras formas de associação para prestar regularmente o serviço que hoje é feito de maneira informal, e em condições as mais precárias. Isso realmente ainda não aconteceu, a não ser em raros locais... Apesar de contempla-los e valorizá-los, esta nova política até hoje não é bem conhecida pelos(as) catadores (as).
O filme foi concebido com o objetivo de, através de registros sistemáticos de oficinas com catadores(as) de materiais recicláveis e exibições de partes desses registros a eles mesmos e às comunidades onde residem, criar condições para que seus membros, de todas as idades, tomem conhecimento e se apropriem de sua realidade socioambiental de uma maneira lúdica, afetiva e participativa
Será mecanismo para ampliar a consciência crítica deste momento de transição, e de capacitação dessas e de outras comunidades para proporem ações futuras.
Inicialmente, os principais protagonistas do documentário, que já está em fase de produção(ganhador do edital FAC/DF para longa metragem -2013), eram os(as) catadores(as) que vivem no entorno do Lixão da Estrutural, o maior “a céu aberto” da América Latina, localizado na capital do Brasil. Mas a constatação de que os problemas enfrentados na capital da República se reproduzem em todo o Brasil, ilustrados pelas particularidades de cada região,faz com que torne-se imprescindível que sejam mostradas no filme, tanto as configurações regionais dos problemas como comunidades de catadores com experiências exitosas em outras unidades da Federação.
O filme pretende então, resgatar a história do “Lixão da Estrutural” e de pessoas que, direta ou indiretamente, relacionam-se com ele, assim como as experiências exitosas ou não, ligadas ao tema, nas cinco regiões brasileiras. Pretende também, a partir da reavaliação do passado e da análise dos problemas sociais e ambientais do presente, criar uma janela por onde se enxergue o futuro a ser construído coletivamente.
“Catadores de História” seguirá sua narrativa a partir, principalmente, do material a ser filmado nas 49 oficinas. Músicas sendo compostas, animações, ensaios de pequenas representações teatrais, sempre girando em torno de temas como “lixo", meio ambiente e direitos humanos, tendo como tema transversal, a nova lei de resíduos sólidos, irão conduzindo a narrativa. Os(as) catadores (as) atuarão como protagonistas de todo o processo criativo/produtivo desse projeto, como cidadãos(ãs)e agentes sociais/ambientais.
O filme será lançado em salas de cinema, no Brasil e internacionalmente, participará de festivais e terá, posteriormente, sua reprodução e exibição liberadas, gratuitamente, para fins educativos e não comerciais.
Exposição Multimídia "Catadores de História"
Reflexões sobre "Lixo", Consumo e Impermanencia.
Essa exposição será montada a partir das criações dos(as) participantes de todas as oficinas do projeto.
No centro da mostra, uma tenda circular representará o mundo dos (as) Catadores(as) que pouca gente conhece: o "lixão".
Formando um grande muro em volta dessa tenda, inúmeros televisores de modelos antigos e tamanhos diversos, ligados a aparelhos de DVD,VHS, Super V, Mini DV, entre outros que como as TVs, foram descartados ainda em funcionamento, e trocados por modelos mais novos, exibem imagens fortes.
Em cada uma das TVs, vemos desfilar essas imagens , umas ao lado das outras, formando um grande mosaico de cenas em movimento, do "Lixão da Estrutural" e outros lixões do país.
No chão, feito de lona plástica reciclada, será impressa uma imensa foto do chão do "lixão", para que os visitantes tenham a sensação de caminhar no maior "lixão" da América Latina.
Do lado de dentro o mundo antigo dos "lixões" que está prestes a terminar. Na saída, nas "costas" do muro circular de TVs, a Lei 12.305/2010, escrita na linguagem simples e poética do cordel, decreta o fim daquele mundo.
Delimitando os espaços da mostra, grafites produzidos pelos(as) jovens catadores (as) participantes da "Oficina de Grafite"(Cultura Hip Hop), falam do novo tempo que está chegando.
A trilha sonora original do filme, a cenografia, desenhos, materiais promocionais do projeto e muito mais, que serão criados a partir de oficinas, também irão compor a mostra.
Objetos como flores de pano, móbiles-urubús, ratinhos de papel machê, bolsas de coleta("bags"), biombos com fotos e outros objetos surgidos do imaginário dos participantes das Oficinas de Técnicas Produtivas, serão produzidos com materiais recicláveis e também irão compor a mostra.
O universo desvendado será, no mínimo, surpreendente.
Livro/Almanaque "Palavras e rimas catadas no lixo", contando a aventura do projeto desde as pesquisas sobre a história do "lixo" na humanidade, até chegar aos dias de hoje.
Será construído numa linguagem jovem, dinâmica e bem humorada. Mesclará charges, depoimentos atuais, relatos de memórias, fotos históricas e linguagem de quadrinhos.
Os textos do Livro/Almanaque, virão das Oficinas de Palavras e Rimas e dos depoimentos colhidos para o filme; as ilustrações, das Oficinas de Desenho/Serigrafia.
Editado em papel certificado, a tiragem será de 20 mil exemplares em português, 20 mil exemplares em espanhol, 5 mil exemplares em francês, 5 mil exemplares em inglês e 5 mil exemplares em chinês. Todos os materiais produzidos terão a certificação FSC.
Um DVD com , no mínimo 21 "mini docs" de no máximo 5 minutos cada, virá como encarte do Livro/Almanaque
FSC é a sigla de Forest Stewardship Council, uma expressão inglesa que, em Português, significa “Conselho de Manejo Florestal”. O FSC é uma organização independente, sem fins lucrativos, fundada em 1993, a partir da necessidade de garantir a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das florestas em todo o mundo.
O selo de certificação florestal é liberado por certificadoras monitoradas constantemente pelo FSC e tem o objetivo de garantir que a madeira provém de um processo produtivo manejado segundo uma gestão ecologicamente adequada, socialmente justa, viável economicamente e que cumpre as leis vigentes.
O livro/ Almanaque estará também disponível na web como e-book, gratuitamente.
Coleção com 8 Folhetos de Cordel: "Lixo Rimado"
A ideia é esclarecer, em linguagem alegremente didática, os direitos e deveres dos(as) catadores(as) e da população em geral, e o novo destino que se desenha à frente. É a linguagem ágil e alegre da literatura de cordel, interagindo com o futuro.
Essa coleção será criada e produzida a partir de Oficinas de Cordel e Xilogravura com Catadores(as), e "traduzirá" em linguagem popular, de fácil compreensão,a Lei de Resíduos Sólidos.
Serão produzidas inicialmente 200 mil kits / coleções de 8 folhetos, com 12 páginas cada.
Estará também na rede para livre compartilhamento, a versão digital dessa coleção: e-cordel "Lixo Rimado".
Participe! Dê sugestões! Conte sua história...
www.catadoresdehistoria.wix.com/catadores
catadoresdehistoria@gmail.com



